quinta-feira, 10 de junho de 2021

MISTÉRIO DE 50 ANOS: PARTE DA HISTÓRIA DE BH É DEVOLVIDA À IGREJA DO CARMO

 FONTE: https://noticiasefatos.com.br/geral/misterio-de-50-anos-parte-da-historia-de-bh-e-devolvida-a-igreja-do-carmo/?unapproved=28&moderation-hash=1ded6847d37fcdba74b41373c749177f#comment-28


Balaustrada reintegrada ao conjunto arquietetônico do templo tem duas peças, com comprimento total de 15 metros. Se destinava até a década de 1960 a acolher os fiéis que, de joelhos, recebiam a comunhão(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Balaustrada reintegrada ao conjunto arquietetônico do templo tem duas peças, com comprimento total de 15 metros. Se destinava até a década de 1960 a acolher os fiéis que, de joelhos, recebiam a comunhão (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)

Esta história demorou mais de 50 anos para ser contada e, quando vem à tona no mês em que se lembra o mistério da eucaristia, na figura da celebração de corpus chrtisti, ganha o tom da comunhão com o patrimônio, do respeito à religiosidade e da consciência na preservação da memória de Belo Horizonte. Está de volta ao interior da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Carmo, na Região Centro-Sul da capital, uma balaustrada em duas peças esculpida em mármore de Carrara e destinada, até o fim da década de 1960, aos fiéis que se ajoelhavam para receber a hóstia das mãos dos freis carmelitas, nas missas.

Durante cinco décadas, a chamada mesa de comunhão, medindo 15 metros de comprimento por 35 centímetros de largura e 80cm de altura, ficou na casa de “um devoto de Nossa Senhora do Carmo, um paroquiano que cuidou dela como um guardião”, afirma o prior do Convento do Carmo e pároco da igreja, frei Evaldo Xavier Gomes.

“Ficamos muito felizes, pois a mesa faz parte da nossa igreja. O mármore é de Carrara, mas ela foi esculpida em BH, pela mesma pessoa responsável pelo altar. Devemos enaltecer a consciência religiosa e o ato de valorização do patrimônio, pois a mesa poderia ter sido destruída, quebrada, enfim, podia ter desaparecido”, diz frei Evaldo. Após tantos anos, a peça foi restaurada, o que exigiu quase um mês de trabalho e uma semana para instalação.

O guardião foi um homem, que faleceu, já muito idoso, no ano passado. “Ao me entregar a mesa, ele contou que, em 1969, durante uma obra no templo do qual era vizinho, a peça foi retirada e descartada, de forma a não voltar mais ao local de origem. Temeroso de que algo pudesse ocorrer, como a danificação do mármore, o homem propôs a compra, levando-a para sua casa”, conta o frei.

Sobre o porquê de a devolução só ter ocorrido tanto tempo depois, o líder religioso se limita a reproduzir as palavras ouvidas do guardião: “Agora, que a Virgem do Carmo voltou a reinar em sua igreja, quero que volte para a casa dela”. Frei Evaldo prefere não se manifestar a respeito das palavras, apenas garante que, com o ato, os belo-horizontinos têm de volta um bem de relevância.

Houve mudanças na dinâmica da distribuição da comunhão a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), quando as mesas saíram de cena, mas frei Evaldo conta que a balaustrada complementa a concepção original da nave, por ser um elemento arquitetônico próprio da Igreja do Carmo. E agora integra um histórico de devoluções espontâneas de peças do patrimônio de Minas, que tem um dos acervos culturais mais ricos do país (veja o quadro).

História

Vindos de São Paulo e comandados pelo frei holandês Atanásio Maatman, os carmelitas chegaram a Belo Horizonte no fim da década de 1930 para fundar uma igreja de grandes dimensões. Na época, a região, que muita gente chama hoje de Carmo-Sion, tinha o nome de Acaba Mundo, pois se imaginava que a cidade terminava ali. De início, os frades ergueram um templo pequeno e provisório, de alvenaria, voltado para a Rua Grão Mogol.

Mais tarde, quando Juscelino Kubitschek (1902-1976) era prefeito de Belo Horizonte e começava a abrir a antiga rodovia BR-3 (atual BR-040), ligando BH ao Rio de Janeiro, frei Inocêncio Gerritsjans, então dirigindo a ordem na capital, decidiu fazer a frente voltada para o trecho da estrada que se tornaria a Avenida Nossa Senhora do Carmo.

Para conseguir o dinheiro, frei Inocêncio circulava pela Cidade Jardim, considerado então “o bairro das famílias ricas de BH”. Há registro de que entrava em festas, ao final tocava piano e acabava conseguindo adesões. Era comum ainda ver outros religiosos pelas ruas, batendo de porta em porta atrás dos recursos necessários para a obra. O templo se encontra em processo de tombamento pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte.