terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

CORONELISMO E IMPÉRIO NO SERRO

 Desde a antiguidade, no tempo de meus bisavós, o Coronelismo está enraizado em minha cidade.

Diziam que a escravidão havia acabado, mas as babás e as empregadas sem salário e sem registro no INSS permanecem até hoje.

Mulheres que cuidavam da casa, das crianças e da patroa eram proibidas de sentar-se à mesa com os patrões, alimentavam na cozinha o que sobrava.

Não tinham férias, nem feriados, nem domingos, não conheciam a palavra descanso.

Descanso só quando casavam e muitas vezes eram impedidas até de se casarem.

Professoras nesta cidade só filhas de famílias tradicionais, eu não preciso citá-las porque todos as conhecem.

Na prefeitura só era indicado para prefeito nome de "coronel fazendeiro", porque de coronel nada tinham.

Quando foi "eleito" um prefeito da classe média, deram-lhe o apelido de "Zé sem condição".

No Serro é assim, o pobre só vai pra frente com empurrão, topada ou com a polícia atrás!

Antigamente no Serro, rico visitava pobres nos domingos, mas só para comer o que eles não faziam em sua cozinha; frango com quiabo e saborear frutas nos quintais. Os meninos de ricos saíam com a barriga estufada de tanto comer.

Mas estes ricos não ofereciam um copo de água a um pobre na cozinha deles.

E quando davam ao pobre alguma sobra de comida é porque estava estragada.

Os melhores empregos eram para filhos de ricos, os apadrinhados. Aos pobres restavam os empregos que os ricos renegavam.

Quando fui morar numa casa velha no centro da cidade muita gente perguntava se eu tinha ficado rica.

Após quarenta anos o Serro continua a mesma coisa, só não conseguiram tirar a minha sabedoria!

Do pobre, o Serro só não consegue tirar a sabedoria porque esta nenhum dinheiro compra, nenhum coronel consegue apagar!

Se você é pobre, mas tem sabedoria, procure outra cidade para habitar. 

Serro é cidade só para lembrar os bons tempos de infância, nada mais!


Texto de Antônia Coelho